domingo, 21 de outubro de 2012

"Lembra-te do Teu Criador nos dias da tua mocidade..."



Em que momentos da vida nos lembramos do nosso Criador?

Aquele, pois, que pensa estar em pé, olhe que não caia. I Co 10:12

Não tenho a intenção de te contar uma triste história, nem te emocionar com o meu drama pessoal. Ninguém tem um medidor de sofrimento e não podemos dizer que "A" sofreu mais que "B". Cada um de nós temos nossas lutas, uma história para ser escrita.
Mas esse breve relato que vai ler, com certeza foi escrita por uma história milagres, dor, superações e expressão do amor de Deus. 
Vale a pena começar contando resumidamente que, ainda na adolescência, fui liberto da dependência química. Aos meus 14 anos de idade já era usuário de crack, cocaína e maconha. Permaneci por 3 anos nesse vício. Fui levado à igreja por minha mãe, não precisei de internações e felizmente, não tive recaídas. Passado algum tempo me estruturei psicologicamente, conheci Renata, minha atual esposa. Mas no ano de 2008, algumas situações me afastaram não só da igreja, mas para bem longe do propósito de Deus pra minha vida.
Perdi a sensibilidade, a paciência, a tolerância, o respeito, o temor e sobretudo, perdi a fé. E foi graças à Sua infinita misericórdia que não perdi a vida.


Pode uma mulher esquecer-se de seu filho de peito?...Mas ainda que esta se esquecesse, Eu, todavia, não me esquecerei de ti. Is 49:15

Depois de um tempo vivendo de maneira totalmente intolerante, totalmente longe de uma comunhão com Deus, passei por mais 3 situações em que Ele me livrou da morte.
A primeira delas, um acidente de moto. Depois, um acidente de trabalho em que saí ileso por um milagre. Por fim, um acidente de carro numa rodovia perigosa, onde meu carro, depois de rodopiar algumas vezes foi arremessado pra fora da pista e não sofri um arranhão sequer.
Em todas essas situações, minha mulher tentava me alertar sobre o cuidado de Deus para comigo. Tentava me dizer ainda que sutilmente, que eu precisava mesmo era de arrependimento. 
E eu ultrapassei os limites da falta de temor. Respondi de forma inconsequente e disse que Deus, querendo falar comigo, teria que agir no plano físico.
Algo que fui deixando de acreditar, era que tudo tem um princípio no mundo espiritual. A bíblia narra no famoso livro de Jó, que antes dele passar por tudo que passou, o diabo arquitetou um plano e Deus permitiu que tocasse na vida Jó. O que teve início no sobrenatural se manifestou no natural.
 E ao ouvir de mim todas aquelas palavras rudes, grosseiras e sem temor algum, minha esposa começou a chorar. Em seu íntimo, implorava a Deus que tivesse misericórdia das minhas palavras.
Foi depois dessa barreira criada por mim mesmo, que começou um tratamento de Deus na minha vida. Não era castigo de Deus, não era punição, acredito na 'Graça' (favor imerecido). Acredito no amor D'Ele. Provação, quando não é Deus quem manda, Ele permite. E pra ilustrar, prefiro dar o nome de “Escola do sofrimento”. 
Por isso bem entendo quando o sábio Salomão orienta para nos lembrarmos de nosso Criador antes que venham os maus dias, porque esses dias chegam para todos e quem passar por eles, sem Deus, certamente vai ficar no meio do caminho.
Ter a minha esposa a meu lado orando por mim, me dando forças, demonstrando todo amor e companheirismo não tornaria a minha provação mais fácil, mas com toda certeza me fortaleceria para enfrentar os revés que estariam por vir sobre nossa casa.

E o cordão de três dobras não se quebra tão depressa Ec 4:12

Pouco tempo depois, comecei a ter fortes dores abdominais, e numa dessas crises, no dia 1 de agosto de 2008, fui submetido a uma cirurgia de emergência, onde foi detectada uma doença inflamatória intestinal rara, conhecida como doença de Crohn. E quando o médico veio me contar que se tratava de uma doença que a medicina ainda não havia achado a cura, comecei a rejeitar aquele diagnóstico em pensamento. Por mais que os médicos diziam: “Não se preocupe, tem tratamento, é como se fosse uma diabetes, hipertensão, dá pra controlar”, ainda assim, a única coisa que passava pela minha cabeça era usar as frases de efeito que aprendi: “Não aceito, comigo não...não nasci com isso...”
Mal sabia que estava apenas me matriculando na escolinha do sofrimento.
Percebi de imediato que estava vivendo as consequências do que tinha feito e dito a algum tempo atrás. E nessa hora, a gente começa a pedir perdão a Deus até do que não fez.
A consciência pesou e comecei a buscar na mente tudo do que teria que me arrepender, porém nada mudaria os planos que Deus tinha a meu respeito. Teria que entender em algum momento, que o caminho do arrependimento, só eu poderia trilhar.

Pois eu bem sei os planos que estou projetando para vós, diz o Senhor; planos de paz, e não de mal, para vos dar um futuro e uma esperança. Jr 29:11

E agora? Recém-casado, cheio de planos para construir uma família, trabalhando num negócio próprio que até parecia ser promissor, o que mudou? O que poderia acontecer com todos os projetos?
No livro de Isaías, Deus diz que Seus caminhos são melhores que nossos caminhos.
Chega um momento em nossas vidas onde teremos que entender essa verdade, ou seja, quando nosso trabalho deixa de ser a coisa mais importante, assim como nosso carro e as nossas roupas de marca, nossos corpos sarados, nosso lazer, nossas paixões. Enfim, quando todas essas coisas começam a dar lugar para os planos de Deus a nosso respeito, começa uma transformação na alma. Vai doer, vai incomodar, vai haver sofrimento, e quem sabe até demore demasiadamente! Mas creia, vai ser o melhor.

Passados alguns dias no hospital, os sintomas voltaram e dessa vez as dores eram mais intensas. A equipe médica tentava resolver sem ter que abordar com uma nova cirurgia, mas foi inevitável. Sofri uma crise com dores terríveis, que ainda é impossível encontrar palavras pra descrever.
O médico responsável chamou a Renata e meu pai, e disse a eles que eu não resistiria e ficaria na mesa de cirurgia. Ela respondeu muito confiante que Deus estava no controle de tudo e que eu sairia com vida dali. Fui encaminhado ao centro cirúrgico novamente, e de lá pra UTI. Então vieram algumas complicações e o maior drama das nossas vidas começou.
Fui acometido por uma infecção generalizada, havia conteúdo intestinal espalhado por todo o sangue, respirava através de ventilação mecânica, entrei em choque séptico. No decorrer dos primeiros dias naquela unidade, os órgãos foram comprometendo sua funções. Com a saúde cada vez mais debilitada, vieram a anemia e a pneumonia. 
Esse curto período de 18 dias na UTI foi duro demais para toda minha família e amigos. 
Passei por mais 5 cirurgias nessa fase, não compensava nem fechar minha barriga porque teriam que mexer de novo. Então deixaram aberto, somente com curativos pra acompanhar a proliferação da infecção.
Enquanto eu estava na UTI, houve uma forte mobilização dos amigos, família e pessoas que constantemente oravam do lado de fora do hospital, sempre à espera de uma boa notícia. Fortaleci laços de amizade, como um jovem pastor que se tornou um irmão para mim. Todos os dias ele me visitava e orava por mim.
Certo dia, minha mãe e minha esposa receberam uma ligação. Foram literalmente convocadas a estarem no hospital em 10 minutos. Tive uma crise na UTI, dali alguns minutos eu seria levado ao centro cirúrgico e diziam que se quisessem me ver vivo, aquela seria a última oportunidade, embora a visão que tiveram quando chegaram lá, já era a de um cadáver. 

A essa altura, eu estaria pesando por volta de 40Kg, estava entubado, totalmente inconsciente, em coma induzido, com os braços restringidos, esparadrapos nos olhos para manter as pálpebras fechadas e com a barriga aberta. Deixaram então que elas entrassem para se despedirem de mim. Minha mãe não aguentou ver a cena por muito tempo, precisou ser amparada. 
Pra Renata, era tão difícil quanto para todos, ainda assim, o que se podia notar quando olhavam pra ela, era um coração cheio de esperança.
A atitude que ela tomou ali dentro da UTI ao me ver, com certeza atraiu a atenção dos céus para aquele lugar. Ela se debruçou sobre meu leito, e como quem conta um segredo ao pé do ouvido, começou a cantar uma canção que dizia: “Creio em Ti Jeová Rafá, em Teu nome há poder e estás presente aqui, vem curar, libertar, restaurar, Jeová Rafá, creio em Ti”.

Porque quando estou fraco, então é que sou forte. II Co 12:10

Bem, escapei mais uma vez e o dia em que eu sairia da UTI estava se aproximando, mas eu ainda teria uns desafios para enfrentar. Entre eles o desafio de assimilar algumas coisas que ouvia nas conversas paralelas de algumas enfermeiras, como por exemplo: “do leito 8 ao 10 não sobrevive um”, ou médicos dizendo: "quando chega nesse ponto, eu nunca vi escapar".
Também tinha alucinações provocadas pelo forte medicamento.
 E o que mais me incomodava e me doía enquanto estava ali, era imaginar o tempo todo, como estaria sendo a vida das pessoas que amo aqui fora. Amigos, família... Eu ficava angustiado e pensava neles, imaginava o sofrimento deles.

Eu podia ver na minha mente, minha mãe rolando de um lado pra outro na cama, sem sono, esperando o telefone tocar, apreensiva e com o coração apertado. 

Meu pai com seu ‘jeitão’ introspectivo, sofrendo calado, e se debulhando em lágrimas em seus momentos de solidão.
O que dizer da minha irmã? Grávida de 6 meses e ao mesmo tempo que estava cheia de alegria porque daria à luz a uma princesinha, sofria com a possibilidade de perder seu irmão, que poderia nem vir a conhecer sua filhinha.
Podia imaginar minha esposa, dedicada, com todos aqueles planos e sonhos pra nós dois vivos em sua mente. Agora ela também tinha que ouvir das pessoas menos otimistas: “será que ele escapa?”. Imaginava ela em casa, arrumando minhas coisas na gaveta, de repente ao sentir meu cheiro, batia a saudade. Talvez se dirigia lá pro canto da cama dobrar os joelhos e rogar ao Pai uma vez mais que trouxesse o marido vivo pra casa, orando e implorando “Senhor, acabei de me casar, não me vejo viúva com 26 anos de idade, salva ele Pai”.

Enfim, chegou o dia em que as coisas começariam a dar sinais de melhoras. Tive alta da UTI e com uma semana no quarto da enfermaria tive uma boa recuperação comparado ao quadro anterior. Estava usando uma bolsinha presa na barriga (colostomia) que me obrigaria a passar por uma nova cirurgia meses mais tarde. Na véspera do meu aniversário, dia 15 de setembro, tive alta do hospital. Comemoramos aquele aniversário de uma maneira muito especial, porque estavam presentes aqueles que acompanharam o drama desde o início.
Para mim, um renascimento, uma nova chance dada por Deus. Estava feliz, sabe aqueles amigos que você conta nos dedos de uma mão? Eles estavam ali comigo. O ambiente realmente era de ação de graças. Eu não estava me importando com a próxima cirurgia que haveria de enfrentar dali a algum tempo. Seria mais simples.
Comecei a recuperar minha saúde, minha vida começou a voltar ao normal. 

Sempre fui prudente com as orientações médicas, por isso pude chegar até o momento dessa nova cirurgia em perfeitas condições.
Seria a 8ª, nova recuperação em casa e mais rápido do que todos imaginávamos, tudo estava de novo em seu lugar. Retomei o trabalho. Fomos abençoados com o financiamento da nossa casa própria. Para mim, aquele deserto tinha chegado ao fim. Mas, quem determina quanto tempo dura nossa passagem pelo deserto, não somos nós. Quem aprova na “escola do sofrimento” não é o aluno, é o Mestre. 
Depois de 8 meses de uma vida normal convivendo com a doença, surge um “probleminha” na minha parede abdominal. Seria uma pequena inflamação, que necessitaria de uma nova intervenção cirúrgica.

Hoje dá pra entender que talvez faltou umas aulas de reforço na “escola do sofrimento”. Mas no momento em que ouvi do médico que seria inevitável uma nova cirurgia, meu chão sumiu. Eu escutava as pessoas me dizendo pra não me desanimar. Queriam me ajudar de alguma forma, é claro. Mas nada tinha o mesmo efeito renovador que as suaves palavras da minha mãe e minha esposa que me diziam: “Vai passar. Calma!”.

A cirurgia em si foi tranquila, mas não contávamos com uma complicação.
Uma das características da doença de Crohn, é que ela provoca perfurações na mucosa intestinal, também conhecidas como fístulas. E surgiu uma fístula dessas que vazava conteúdo intestinal através da incisão cirúrgica. Se quando soube que seria operado, perdi o chão, dessa vez, a impressão foi de que os céus se fecharam. 
A primeira conduta médica foi me manter alguns dias no hospital pra ver como evoluía. Me liberaram depois de 23 dias hospitalizado, para que fosse me recuperar em casa. A fístula não havia fechado e no hospital em que eu me acompanhava não me davam esperanças, passei o 1º semestre do ano de 2010 convivendo com essa incerteza.

Chegou o momento de procurarmos um hospital especializado. Tínhamos uma referência de um médico muito conceituado que trabalha em SP e resolvemos procurá-lo. Realmente o que vimos foi uma equipe extremamente qualificada e um médico muito humano, que abraçou minha causa e mudou até a própria agenda de férias para me operar. Espera, eu disse operar? De novo? Pois é, seria a 10ª cirurgia. Era necessário! 


Enfim, passei por mais essa luta, adestrado e forjado para guerrear mais uma batalha.
Deixei um pouco de lado os questionamentos do tipo “Por que eu?”, e me dediquei a tentar aprender um pouco mais nessa escola da vida .
Já aprendi um pouquinho nessa escola meus amigos, e permita que eu compartilhe algumas coisas que aprendi:
- Sei hoje por exemplo que só entende de tempestade, quem passa por ela.
- Hoje eu sei também que Deus é o mesmo que curou no passado, tem todo o poder para curar no presente, e é por isso que não abro mão de buscar minha cura todos os dias.
- Entendo que Ele não divide a Sua glória, e que não se deixa ser encostado na parede para exigirmos que algo aconteça fora de Seu tempo. Se o milagre acontecer, Ele é Deus, caso não aconteça, Ele continua sendo Deus.
- Não subestime um problema, mas também não os super-estime!
Nós somos fracos e frágeis. Se reconhecemos a dependência de Deus diariamente, Ele pode contar conosco.

Em que estágio você está na escola do sofrimento? Alguns de nós, ainda nem foi matriculado para essa escola. 
Minha esposa e eu construímos uma família linda! Tenho um filho lindo, meu amigão! Desde 2011, logo 1 ano após minha última cirurgia, encontrei no esporte a minha terapia. 

Quero te encorajar dizendo que não importa qual seja seu desafio hoje, com certeza ele tem um nome. Talvez atende pelo nome de vício, divórcio, desemprego, doença física, doença da alma. Não importa o nome, saiba que Deus exaltou a Cristo soberanamente, e lhe deu o nome que está acima de todos os nomes. E diante do nome de Jesus, todo joelho se dobrará.

Permanece firme, mesmo com dores, pois não há glória sem cruz. Não há ganhos sem dores.
As provações não para entendermos, são pra passarmos por ela crendo sempre em Cristo Jesus.

Pois tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Rm 8:18




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